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    "Bombu Mininu": Espaço de cultura e convívio no coração do Mindelo

    3 de junho de 2025

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    António Tavares, a porta do espaço "Bombu Meninu"

     

    O "Bombu Mininu" é um espaço cultural de excelência na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente. Mais do que um centro educativo e de investigação cultural, é sobretudo um lugar de convívio, uma característica que António Tavares considera essencial na identidade cabo-verdiana. O conceito de "convivência" é, para ele, uma marca profunda da cidade do Mindelo e da ilha de São Vicente.

     

    O espaço é propriedade de António Tavares e da sua companheira, Miriam Simas Tavares.

     

    Para António Tavares "o Bombu Mininu é uma fase do projeto de questionamento. É a forma como podemos repensar o nosso ensino. A primeira academia do corpo é precisamente o bombu mininu, expressão que, traduzida do crioulo para o português, significa ‘levar o bebé às costas com um pano’. Esse contacto entre o bebé e os pais é a nossa primeira escola: desde o ato de andar, à respiração… é todo um processo de aprendizagem e de comunicação com o corpo. Este laboratório de transmissão de saberes é também a base do nosso projeto no espaço Bombu Mininu".

     

    António Tavares é coreógrafo, bailarino, músico, desenhador, investigador e "agitador" cultural. Natural de São Vicente, é filho de mãe de Santa Catarina de Santiago e de pai da ilha do Maio, ambos vieram para Mindelo para trabalharem no Porto Grande.

     

    Tavares resgata uma frase muito ouvida no interior de Santiago: "Tenho bebida em casa, mas não bebo em casa porque em casa não tenho balcão para pôr o cotovelo." Para ele, isso significa que, embora os pensamentos sejam gerados em casa, é nos espaços de convívio que se dá a partilha, e é essa troca que impulsiona a cultura.

     

    É esse o propósito do "Bombu Mininu": promover o convívio, "casar" pessoas, ideias e entidades. Um projeto como este acontece em todas as cidades criativas e traduz-se em espaços de conversa, tertúlias e provocações intelectuais.

     

    Mais do que um projeto, "Bombu Mininu" reflete o modo de estar dos seus mentores, António e Miriam. Valoriza-se aqui a cultura e a identidade cabo-verdiana. "Somos um país de paz, temos uma tranquilidade... Quando os turistas vêm cá, sentem isso", afirma António Tavares.

    O espaço é também um verdadeiro museu etnográfico, composto por peças recolhidas e doadas por visitantes. Graças ao boca-a-boca, o "Bombu Mininu" conquistou o carinho dos mindelenses e dos turistas, tanto nacionais como estrangeiros, que procuram mergulhar na cultura crioula. Os proprietários orgulham-se dessa reputação construída de forma espontânea e genuína. "É mais honesto, mais sincero, porque as pessoas vêm pelas boas recomendações de quem já nos visitou", sublinha Tavares.

     

    No passado dia 31 de janeiro, o espaço celebrou seis anos de existência. Situa-se na zona da "Morada", no centro do Mindelo, perto da Câmara Municipal, na Rua de São João.

     

    Pequeno, mas acolhedor, um lugar onde o mundo inteiro parece caber, o espaço conta com uma pequena esplanada na rua, que por vezes se transforma num palco improvisado, onde a música do mundo ganha vida. Ali realizam-se concertos intimistas, ateliês, exposições de fotografia e artes plásticas, lançamentos de livros. Um espaço aberto aos artistas de Cabo Verde e do mundo.

     

    Chegámos ao "Bombu Mininu" numa quinta-feira. Da rua, é possível ver quase todo o interior. Lá dentro, António Tavares dançava ao ritmo de música latina com uma turista espanhola. Três turistas portuguesas entraram subitamente. Tavares, com discrição, interrompeu a dança para dar as boas-vindas com um sorriso largo, vindo da alma. Sem perder a ginga, voltou ao ritmo. Afinal, enquanto a música toca, dança-se com o par.

     

    António Tavares tem um percurso notável na dança cabo-verdiana. Foi bailarino icónico do grupo "Mindel Stars", com o qual fez, em 1986, a sua primeira digressão internacional, passando por Senegal, Holanda, França e Macau. Em 1991, fundou os grupos Crêtxeu e Compasso Pilon, com os quais desenvolveu uma importante investigação sobre dança tradicional cabo-verdiana.

     

    Ainda jovem, partiu para Portugal para estudar dança. Frequentou a Escola de Artes e Ofícios do Espetáculo, o Chapitô. E formou-se na Escola Superior de Dança de Lisboa. Completou ainda o curso de Coreografia na Fundação Calouste Gulbenkian. Em Portugal, manteve uma intensa atividade artística e fundou a Associação de Artistas Africanos em Portugal - o Tchon di Nôs.

     

    Regressou a Cabo Verde em 2001 e fundou a associação Fou-Naná Projectos/Centro de Pesquisa Cultural. Atualmente, é diretor artístico do Centro Cultural do Mindelo, uma instituição tutelada pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas. O Centro é hoje uma referência na vida cultural de São Vicente, com uma programação rica, diversificada e amplamente reconhecida pela sua qualidade.

     

     

    Décio Barros