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    CVMA: os pontos em comum da "Geração 75"

    14 de junho de 2025

    A atuação "Geração 75", protagonizada por Lura, Nelson Freitas e Nancy Vieira, foi um dos momentos mais aplaudidos da 14ª edição dos Cabo Verde Music Awards (CVMA), realizada a 7 de junho, no cais do Porto da Praia. Um performance musical que reuniu três artistas consagrados, unidos por um elo simbólico: nasceram em 1975, o ano em que Cabo Verde conquistou a independência.


    Apesar de terem nascido na diáspora, os três músicos mantêm uma forte ligação às ilhas de origem dos seus pais. Lura é filha de mãe santantonense e pai santiaguense; Nelson Freitas tem raízes em São Nicolau; e Nancy Vieira descende da Boa Vista e de Santa Catarina, em Santiago. Nancy Vieira sublinhou essa ligação durante o seu discurso ao receber o prémio de Música Tradicional do Ano: "...dedico este prémio, também, aos outros nomeados nesta categoria, ao Tiolino, 100% kabrer, e à Gabriela Mendes, 50% kabrera, como eu." [Kabrer é o termo carinhoso usado para se referir aos naturais da ilha da Boa Vista].


    Nelson Freitas nasceu na Holanda, a 4 de abril, e visitou Cabo Verde pela primeira vez aos 10 anos. Nancy Vieira nasceu na Guiné-Bissau, território central na luta pela independência da Guiné e de Cabo Verde, e chegou às ilhas com apenas quatro meses. Já Lura nasceu em Lisboa, a 31 de julho, e apesar da capital de Portugal ter a comunidade cabo-verdiana na diáspora com maior frequência de ligação com a "terra", ela só conheceu Cabo Verde aos 22 anos, um ano depois do sucesso da música "Nha Vida", tema que deu nome ao seu primeiro álbum e que esteve várias semanas no topo das tabelas da rádio e televisão em Cabo Verde.


    Foi precisamente com "Nha Vida", conhecida entre os cabo-verdianos como "Homi di nha vida", que Nancy Vieira abriu a atuação conjunta na Gala CVMA 2025. Nancy cantou Lura. De seguida, Nelson Freitas interpretou "Manu, a música que revelou Nancy ao grande público. Lura encerrou o trio ao "cantar" Nelson Freitas, num excerto da sua popular "Bo tem mel", música integrou o álbum "Elevate", que na edição CVMA 2014 arrecadou prémio de Melhor Álbum Electrónico e múltiplos outros prémios como Música do Ano, Melhor Videoclip, Sapo Awards (vídeo mais popular), Melhor Cabozouk/Cabolove. 

     

    As três músicas tiveram impactos significativos e sucessos aquando dos seus lançamentos. O espetáculo culminou num medley de temas icónicos que exaltam a cabo-verdianidade.


    Outro ponto em comum entre os três artistas é o início das respetivas carreiras discográficas. Todos lançaram os primeiros trabalhos entre os 21 e os 22 anos. Em 1996, Lura ainda não conhecia Cabo Verde e vivia em Lisboa quando lançou "Nha Vida". Curiosamente, a primeira visita a Cabo Verde aconteceu um ano depois do sucesso da música "Nha Vida", da sua autoria, escrita aos 18 anos, que deu nome ao seu primeiro álbum. A canção esteve durante várias semanas no topo das tabelas da rádio e da televisão em Cabo Verde.
     

    Nesse mesmo ano, Nancy Vieira, então estudante universitária, de sociologia em Lisboa, gravou o álbum "Nos Raça", como prémio por vencer um concurso de musical numa discoteca de música africana. Neste primeiro álbum, destacou a música "Manu" de autoria de compositor maiense Betú. 
     

    Um ano depois, em 1997, Nelson Freitas gravou a sua primeira música, "Hoje em dia", como integrante do grupo Quatro, incluída no CD coletivo "Mobass Presents". A sua carreira a solo começou em 2006 com o álbum "Magic".


    Enquanto Nelson Freitas construiu a sua trajetória no universo do hip hop, zouk, kizomba e afrobeat, Lura e Nancy mantêm-se mais próximas dos ritmos tradicionais cabo-verdianas, com destaque para géneros como a morna, coladeira e batuque.


    A atuação da "Geração 75", que valeu aos três artistas o troféu "Lembrança" da 14ª edição dos CVMA, foi mais do que uma homenagem simbólica: foi um retrato de talento, da diversidade e da riqueza cultural cabo-verdiana. Acompanhados por banda de jovens talentos como Ivan Medina, Khaly Angel, Maggik Santiago e Heber Pires.


    De resto, Nancy Vieira foi um dos grandes destaques da edição deste ano dos CVMA, ao arrecadar quatro prémios nas quatro categorias em que esteve nomeada: Melhor Música Tradicional, Melhor Morna, Melhor Intérprete Feminina e Álbum do Ano. Nelson Freitas venceu na categoria de Melhor Afrobeat, somando, até agora, 25 nomeações e 11 prémios ao longo das 14 edições deste evento que distingue os melhores da música cabo-verdiana. Já Lura teve a honra de interpretar o hino nacional na cerimónia de abertura da gala, num momento emocionante: as luzes apagaram-se e apenas a artista ficou iluminada, posicionada no alto de um dos contentores que cercavam o espaço do evento.