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    Gamboa é Gamboa: festival voltou a mostrar porquê é o preferido dos praienses

    19 de maio de 2025

    O segundo dia do Festival de Música da Gamboa nunca decepciona. Sempre teve enchentes, e assim foi nesta 31ª edição: casa cheia para apreciar o desfile de músicas variadas e o convívio nas concorridas barracas di kumi bebi.

     

    O festival acontece tradicionalmente no fim de semana mais próximo de 19 de Maio, integrando as festividades do Dia do Município da Praia. A Gamboa é, definitivamente, o festival mais acarinhado pelos praienses, mesmo sendo realizado num espaço de terra batida e com muita poeira. Por ali já passaram quase todos os grandes nomes da música cabo-verdiana, e o palco continua a alimentar o sonho de jovens músicos que ambicionam um dia atuar ali.

     

    Este sábado, 17 de maio, marcou o segundo e último dia da 31ª edição do Festival da Gamboa, um verdadeiro banho de multidão, com um alinhamento musical diversificado e artistas de várias gerações.

     

    A abertura da noite ficou a cargo do cabo-verdiano Rahiz. Nascido em Lisboa, Rahiz atuou pela primeira vez no país onde tem raízes profundas: filho de pais cabo-verdianos e sobrinho do icónico músico Luís Morais. A sua boa energia, good vibes e sorrisos largos conquistaram o público, que se aproximou do palco ao som da sua música.

     

    Em 1975, ano da Independência Nacional, Rahiz ainda não tinha nascido. Já Mário Lúcio Sousa tinha então 10 anos de idade, o suficiente para absorver o ambiente vibrante que se viveu em Cabo Verde no pós-independência - inspiração para o seu mais recente álbum, “Independance”, um trocadilho dançante ao som dos ritmos soukous que invadiram o país nessa época. Foi com a música que deu nome ao álbum, que Mário Lúcio abriu o seu espetáculo na Gamboa 2025, para celebar os 50 anos da Independência Nacional. A sua presença carismática e um alinhamento bem conseguido emocionaram o público, que cantou em uníssono temas como "Ilha de Santiago".

     

    A artista guineense Ineida Marta trouxe os ritmos e "cores" quentes do seu país, numa fusão entre tradição e influências modernas.

     

    Seguiu-se Neyna, a "rainha dos hits", que voltou a testar, e a comprovar, a sua popularidade. O público, de todas as idades, cantou e vibrou com as suas músicas e performances. Filha da Praia, do bairro da Terra Branca, Neyna subiu ao palco pelo segundo ano consecutivo e encerrou a sua atuação em grande estilo ao chamar ao palco o parceiro do êxito "Nu Ca Sta Para", o MC Acondize.

     

    Depois, foi a vez de Apollo G, com muita energia de sempre. Também nascido na diáspora, em Portugal, foi muito aplaudido. Vibrante, convidou o músico Loose Jr. e juntos ofereceram ao público “Lado a Lado”, tema que já conta com mais de dois milhões de visualizações no YouTube, em apenas dois meses.

     

    A animação entre atuações ficou a cargo de apresentadores do programa televisivo "Manhã Kriola" da TVA, da Sannang da Silva e do DJ Pensador. Este último, um veterano nestas andanças, manteve o público em festa durante as mudanças no palco.  

     

    Garry foi o próximo a subir, por volta das 4h40 da madrugada, para uma viagem de 60 minutos pelas suas letras cheias de romantismo. Fãs na linha da frente, agarradas às barreiras junto ao palco, esperaram ansiosamente pelo artista, que retribuiu o carinho com sorrisos, abraços e até uma "visita" ao público. Chamou ainda ao palco a artista Indira, com quem recentemente colaborou no tema "Nka ta Skeceu".

    Com o dia já a clarear, Rods Wires, jovem da Achada de Santo António, a poucos metros da Gamboa, trouxe o afrobeat que fez saltar os mais jovens. Dono da série "Matagal", música que já vai na versão 6.0, e soma milhões de visualizações no YouTube. Foram 30 minutos de energia contagiante.

    Perto das 7h da manhã, quando já havia mais gente junto às barracas di kumi bebi do que em frente ao palco, Miguel KR subiu com o seu hit “Vibra Ku Mi”. A música, lançada há três meses, já soma quase 1,5 milhão de visualizações no YouTube. Uma atuação muito bem recebida.

     

    O encerramento da 31ª edição da Gamboa ficou por conta de Bedja KP, que puxou pelos ritmos frenéticos do funaná, popularmente conhecido como “cotxi pó”, levantando ainda mais poeira em frente ao palco. Bedja KP deixou um recado no palco: "monte sta fla ma és é Papa di cotxi pó. Mas mi é Vovô!".

     

    Para o próximo ano, ainda não se sabe se o Festival da Gamboa continuará a ser realizado no mesmo espaço. O terreno foi vendido a privados há anos e existe um projeto para a construção de prédios no local.