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    Milene Gomes (Flor de Esperança) e Ana Mileida (Freirianas Guerreiras) [foto Décio Barros]

    Batuku ganha categoria própria nos CVMA: uma conquista histórica impulsionada pela força da diáspora e das redes sociais

    24 de abril de 2025

    Pela primeira vez na história dos Cabo Verde Music Awards (CVMA), ao cabo da sua 14ª edição, o batuku ganha a sua própria categoria. Este género musical tradicional vive atualmente um dos seus maiores auges de popularidade, impulsionado pelos números crescentes de conteúdos e visualizações nas redes sociais, sobretudo no YouTube. O grupo Flor de Esperança com dois das três músicas nomeadas nesta categoria, nos CVMA. no ano em que o evento celebra o Cinquentenário da Independência de Cabo Verde.

     

    As três músicas nomeadas para "Batuku do Ano" nos CVMA 2025, acumulam juntas cerca de 5 milhões de visualizações na maior plataforma de vídeos do mundo, o YouTube. São elas: "Mudjer Caboverdiana" do grupo Batucaderas Herança Di Nós Terra (de São Domingos, Santiago) - 33 mil visualizações; "Imigrason" do grupo Flor de Esperança - 2,5 milhões; "Amizadi Na Nota" das Freirianas Guerreiras feat. Flor de Esperança - 2,2 milhões.

     

    As duas últimas obras são fruto do trabalho de artistas com raízes no batuku em Cabo Verde, mas que emigraram para Portugal após a pandemia. Lá, deram uma nova roupagem ao estilo, em colaboração com o músico Lejemea, que assinou a produção musical. Na diáspora, beneficia-se de uma maior promoção, também pelo facto de a comunidade emigrada ser uma grande consumidora de conteúdos em crioulo na Internet.
     

    Na edição anterior dos CVMA, em 2024, a música "Si Bu Dam", um batuku de Lejemea feat Freirianas Guerreiras (com 5,3 milhões de visualizações no Youtube), venceu na categoria Música Tradicional, categoria esta que foi extinta nesta nova edição.

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    Ineida Sena e o grupo Batucaderas Herança Di Nós Terra, nomeados na categoria "Batuku do Ano" [foto Décio Barros]

     

    Um olhar breve sobre a visibilidade que o batuku conquistou nos últimos anos na ilha de Santiago, berço e maior palco deste género musical. Os grupos de batucadeiras têm conquistado espaços de destaque em festivais de música, sendo até cabeças de cartaz em alguns eventos.

     

    Vários restaurantes com música ao vivo na cidade da Praia, como o 5al da Música, Nice Kriola e Seven Beach Club, já dedicam um dia da semana ao batuku. No Tarrafal, o restaurante Cegonha segue a mesma tendência.

     

    A TCV, televisão pública de Cabo Verde, também criou um espaço semanal para o batuku, dentro o programa "Show da Manhã", por onde já passaram todos os grupos de Santiago, da ilha do Maio e até da diáspora, sediados no Senegal, Portugal e França.

     

    Em Santa Cruz (Santiago), a Câmara Municipal organiza regularmente o popular festival "1 Concelho 3 Ritmos", que já vai na sua 14ª edição. São três dias de festa, cada um dedicado a um género com raízes profundas no município: batuku, funaná e tabanka.

     

    O Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas organizou, em 2022 e 2023, o evento "Maior Terreru do Mundo", na cidade da Assomada. O festival reuniu milhares de batucadeiras da ilha de Santiago e do Maio. Em2024 optou por apoiar projetos de batuku, através de um Edital.

     

    Destaca-se também o trabalho da Fundação Batuku CV, liderada pelo músico Bob Mascarenhas, que tem promovido festivais e eventos dentro e fora do país. A fundação tem sido um pilar essencial na divulgação e profissionalização dos grupos, apoiando com produção de videoclipes, uniformes e formação sobre vozes e ritmos.

     

    Outro grande exemplo de resiliência e promoção contínua do género é o grupo Delta Ramatxadas, do Tarrafal. Com uma média de 3 a 4 atuações por semana em espaços culturais. Organizam o seu festival de batuku [ver noticia], com dezenas de grupos, com recursos próprios, que já vai na 20ª edição. É obra!

     

    Não se pode esquecer o impulso global dado por Madonna, que incluiu um grupo de batucadeiras radicadas em Lisboa na sua digressão mundial, levando o batuku a novos palcos internacionais.

     

    De volta aos CVMA, há outro feito inédito: pela primeira vez, um batuku está nomeado na categoria de Música Popular do Ano. Trata-se de “Imigrason”, do grupo Flor de Esperança. A interpretação de Milene Gomes, com a sua voz doce e melancólica [ver noticia], conquistou corações em Cabo Verde e na diáspora. A música soma já 2,5 milhões de visualizações no YouTube. Desde então, o grupo tem sido dos mais requisitados para atuar junto das comunidades cabo-verdianas na Europa e alguns festivais de música em Cabo Verde, onde são cabeças de cartaz.

     

    Milene Gomes e o seu grupo Flor de Esperança enfrentam agora o desafio de destronar Neyna, vencedora desta categoria nas duas últimas edições. O prémio será decidido por voto popular, feita  exclusivamente, no site oficial dos CVMA, aberta até ao 2º intervalo da noite da Gala de premiação, que está agendada para 7 de junho de 2025, na cidade da Praia.

     

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    Décio Barros